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ÊXODO, DESIGN, DESCENTRALIZAÇÃO. percursos de 2 artistas gráficos alentejanos
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Sobre o projeto

O projeto “Êxodo, Design e Descentralização. Percurso de 2 Artistas Gráficos Alentejanos”, do centro de investigação Techn&Art do Politécnico de Tomar, estuda a obra de design gráfico de dois autores nacionais de renome: Armando Alves (Estremoz, 1935) e Aurelindo Jaime Ceia (Portalegre, 1944-2024). Ambos são relativamente pouco conhecidos fora da comunidade artística, no entanto, ao longo do último quarto do séc. XX e início do séc. XXI, influenciaram diversas gerações de designers gráficos nacionais, quer através da sua atividade profissional nesta área, quer pela sua ação pedagógica, de ensino nas escolas de Belas-Artes do Porto e de Lisboa. Deste projeto resulta a edição de um conjunto de três livros e a realização de duas exposições, nas terras natais dos dois autores. 

 

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

PATROCÍNIO: Fundação Eng.º António de Almeida, Associação de Coleções/Berardo Collection

PARCERIA: Câmara Municipal de Estremoz, Câmara Municipal de Portalegre, BIALE – Bienal Internacional do Alentejo, Cooperativa de Comunicação e Cultura

COLABORAÇÃO: Fundação Portuguesa das Comunicações, CTT Correios de Portugal, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Câmara Municipal da Amadora, Câmara Municipal de Mértola, Câmara Municipal de Torres Vedras, Editora e Livraria Modo de Ler, Editora Flauta de Luz, Lightwalking, Sem Termo Filmes, Museu Monográfico de Conímbriga, Ruínas de Miróbriga, Troia Resort/Ruínas Romanas de Tróia.

ENSINO SUPERIOR: Universidade de Aveiro, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Universidade de Évora, Instituto Politécnico de Portalegre. 

 

Financiamento total: 11.872,00 € (FCT) + 8.000,00€ (mecenato) + 2.100€ (outros apoios) = 21.972,00€

 

AUTORIA DOS TEXTOS: Pedro Matos, Regina Delfino (textos introdutórios e específicos), Bernardo Pinto de Almeida, Gonçalo Falcão, Helena Barbosa, Rui Mendonça (ensaios), António Nicolas, Fernando Real, Francisco Providência, José Brandão, Luís Filipe Rodrigues, Luiz Duran, Mariana Almeida (depoimentos)

 

 

ÊXODO E CULTURA

As indústrias culturais e criativas estão historicamente centradas nos grandes centros urbanos dos países. Em Portugal, como noutros países, o desenvolvimento industrial e económico centrou-se em polos litorâneos ou localizados geograficamente, induzindo vagas de emigração, especialmente na segunda metade do séc. XX. De todo o interior do país saíram famílias ou indivíduos para as principais cidades, necessários à indústria e aos serviços (Mattoso, 1998, 2001). O design, tal como outras atividades criativas, cresceu e firmou-se associado a estas empresas, possibilitando que um número cada vez maior de pessoas conseguisse fazer vida dele (Almeida, 2015; Bártolo, 2023a). 

Os anos 1950 viram a primeira grande vaga de trabalhadores rurais migrarem para Lisboa, Porto ou Coimbra (Alarcão, 1964 e 1984). Os jovens que procuravam as artes seguiram também este caminho, procurando nos grandes centros a educação artística, de que o interior carecia. Os empregadores da sua criatividade também ali se encontravam, nas áreas da publicidade, da edição e da imprensa e em diversas outras, ligadas ao património e à cultura. 

 

ÊXODO E DESIGN

Se grande parte dos artistas gráficos que trabalharam em solo nacional são oriundos dos grandes centros urbanos, outros há que para lá emigraram, e chegaram a ocupar lugares de igual relevo e reconhecimento entre pares. Entre estes encontram-se migrantes oriundos de outros países e, ao nível nacional, de várias proveniências, com maior predomínio para o centro e sul. Contam-se neste êxodo homens e mulheres de gerações diversas que ao longo do séc. XX se mudaram principalmente para Lisboa, o grande centro económico e cultural do país até à década de 1960. Em relação aos estrangeiros, de uma primeira geração de modernistas e designers, encontramos Fred Kradolfer (Zurique, 1903–1968) ou Thomaz de Melo, ou Tom (Rio de Janeiro, 1906–1990). Quanto aos nacionais, dessa mesma geração, temos Bernardo Marques (Silves, 1898–1962), Manuel Ribeiro de Pavia (Pavia, 1907–1957) ou Roberto Nobre (São Brás de Alportel, 1910–1969). Da segunda geração de designers, Maria Keil (Silves, 1914–2012), Tóssan (Vila Real de Santo António, 1918–1991) ou Luís Filipe de Abreu (Torres Novas, 1935). Da terceira geração de designers, Armando Alves (Estremoz, 1935) e Aurelindo Jaime Ceia (Portalegre, 1944) são alguns destes migrantes.

Se da primeira e segunda gerações a investigação e a produção escrita sobre eles tem vindo a crescer consideravelmente no nosso país (p.ex. Baltazar, 2015; Silva, 2016; Bártolo, 2016; Silva, 2018; SOCTIP, 1989) da terceira geração restam ainda algumas falhas no conhecimento da obra e das personalidades destes criadores (ver Bártolo, 2023b, 2023c; Silva, 2015). 

 

ARMANDO ALVES E JAIME CEIA, DESIGNERS

Armando Alves e Aurelindo Jaime Ceia são parte destes nomes. Ambos migraram para o litoral nas décadas de 1950 e 1960, respetivamente; e vieram a trabalhar em design relativamente tarde, de forma mais intensa a partir das décadas de 1970 e de 1980, no Porto e Lisboa, pela mesma ordem. Dois percursos distintos, com personalidades e obras próprias não deixando de possuir pontos em comum, além da origem geográfica (Ed. Inova, 1978; Sousa, 2020). Armando e Ceia serão fruto do contexto e desenvolvimento do país na segunda metade do séc. XX e início de XXI. Ambos desempenharam papéis importantes dos pontos de vista profissional e pedagógico (Castro, 2006; Nicolas, 2007). Por outro lado, as áreas em que trabalharam refletem diferentes fases de desenvolvimento do nosso país, muito em particular o início e desenvolvimento do estado democrático, e em ambos os casos, muito associados a movimentos de descentralização social e cultural: Armando, ao colaborar num forte movimento editorial portuense, o primeiro a “rivalizar” com as editoras de Lisboa. Ceia: quando integra a Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras, e mais tarde, ao desenvolver parte muito significativa do seu trabalho na área da Arqueologia, com projetos espalhados de norte a sul do país (Bártolo, 2023b; Castro, 2006; Ceia, 2021).

 

DESIGN GRÁFICO E DESCENTRALIZAÇÃO 

Da vasta obra gráfica de ambos destacam-se alguns aspetos centrais em termos culturais e patrimoniais: no caso de Armando Alves, o trabalho com José da Cruz Santos nas editoras portuenses Inova e Oiro do Dia, foi uma referência na renovação do panorama editorial nacional, e em particular na área da poesia, ao longo dos anos 1970. A editora Limiar, de Egito Gonçalves e Eugénio de Andrade, deu continuidade ao trabalho de Armando Alves com este último poeta nas editoras anteriores e na área da poesia. Este trabalho editorial em muito contribuiu para uma descentralização face a Lisboa na cultura nacional, naquela década. Armando Alves encontra-se ainda entre os mais importantes artistas que realizaram cartazes de cariz político no pós-25 de abril. 

Por seu lado, Jaime Ceia desenvolveu um trabalho notável de descentralização na contribuição que deu, a vários níveis, para o incremento da Cooperativa de Comunicação e Cultura, em Torres Novas, a partir do final dos anos 1970. Esta instituição proporcionou uma forte atividade cultural naquela cidade, por onde passaram muitos artistas plásticos de relevo, entre outras figuras marcantes da cultura nacional, para cujos eventos Ceia criou toda a comunicação gráfica. Com início na década de 1980, deu um contributo muito positivo na área da arqueologia, com projetos de sinalética e museografia implementados de norte a sul do país. Encontram-se entre os seus clientes, a maioria por via do IPPAR, o Museu Nacional de Arqueologia, o Mosteiro dos Jerónimos, o Campo Arqueológico de Tróia, o Museu Municipal de Mértola, o Museu Monográfico de Conímbriga ou a Fundação Coa Parque.

Referência: CFPI2023/06
Eixo principal de investigação: Valorizaçã do Património Cultural
Financiamento: 11 872,00€
Âmbito: Nacional

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